A Indústria é contra nós das antigas

 


Obsolescência planejada é uma prática da indústria que visa obrigar o consumidor a trocar dentro de certo prazo um produto que comprou. Significa forçar o sujeito a gastar nos estabelecimentos comerciais o mais frequente possível. Com isso a indústria garante seu lucro, o de seus parceiros de negócios e o emprego de várias pessoas, que são vistas mais como consumidores que fazem a roda girar continuamente do que como entes que precisam do emprego para arcar com o seu sustento e o dos seus.


Focada nessa estratégia, a indústria verifica os hábitos dos consumidores que os ajudam a fazer perdurar os produtos que utilizam e busca sabotar esses hábitos. Ora tirando do mercado itens de refil (conteúdo descartável de alguns produtos, que pode ser substituído), que é o caso da maioria dos que veremos na lista abaixo, ora fazendo circular informação falsa ou questionável para desencorajar o costume – caso das pilhas, que o consumidor costumava colocar dentro do freezer da geladeira para ressucitá-las após secas e a indústria fez circular a crença de que a prática podia ocasionar envenenamento naqueles que consumissem os alimentos guardados no freezer junto com as pilhas gastas.



Sobre isto, o consumidor de pilhas do meu tempo deu seu jeitinho e pôs a indústria para inventar uma desculpa para impedir-nos de ressuscitar as pilhas deixando-as por um tempo sob areia lavada.

E aqueles garrafões de 5 litros de vinho ou garrafas pet de 2 litros cheios de água que se colocava em cima do padrão de luz para economizar o consumo de energia elétrica? Funcionava, viu! Mas, essa opinião você não vai confirmar com o fornecedor de energia e nem com a agência de publicidade dele. E, é óbvio, nem na Globo, que é quem vai faturar executando a publicidade.


Bom, pra gente que é das antigas, usar refil não é só uma questão de economia, é também o convívio com hábitos que demonstravam nossa criatividade e vontade de conviver por muito mais tempo com as coisas que utilizávamos. Pasmem, pegávamos amor pelas coisas, por isso:


Trocávamos a tira do chinelo quando ela rebentava. E se não desse, pregávamos uma tachinha ou um prego na tira velha pra não desfazer da sola! Aí, vem a indústria e simplesmente corta a produção isolada das tiras, coisa que comprávamos até em mercearia.



Aconteceu o mesmo com a palmira dos sapatos e dos tênis. Até mesmo se o tênis tiver perfeito, mas, trocar a palmira for questão de dar um basta no chulé, tem-se que comprar calçado novo.



Você sabia que houve uma época em que se injetava carga num refil em vez de comprar outra caneta esferográfica? Pois é, comprar a caneta por completo não se está ajudando a sobreviver no mercado e a manter empregos somente ao vendedor do produto acabado, mas também aos fornecedores de cada parte dela.



O mesmo vale para o batom, que já teve o tempo em que se comprava apenas o cosmético e o alojava na capsula.

O repelente de insetos tirou a espiral combustível do mercado exatamente porque era só comprar o refil. Não precisávamos dormir com ventilador fazendo mais barulho do que o pernilongo e nem virar tenista pra manusear raquete elétrica.


Havia as bombas de desinfetante, nas quais se enchia de produtos para serem pulverizados. A indústria verificou que tinha certo custo-benefício para o consumidor o racionamento que ele fazia para fazer durar os desinfetantes e se empenhou por lançar os mesmos em embalagens que já vinha com o spray aerosol, que borrifava por vez a quantidade de desinfetante que o fabricante esperava que fosse borrifado para que o consumo girasse logo. E de quebra inibiu a criatividade do consumidor, que usava as bombas para espreiar outras coisas. Eu, por exemplo, fiz de aerógrafo umas bombas dessas para pintar desenhos que eu produzi em superfície de acetato.


Você não precisava comprar um celular novo porque viciou a bateria, que certamente iria viciar dentro de um prazo pensado pela indústria. Bastava comprar uma nova, do mesmo modelo, que era praticamente a mesma para qualquer celular. Já deve ter notado que hoje até há a promessa de se poder comprar bateria à parte, mas, a indústria trata de dificultar de ser encontrada. Quando isso se torna um pouco difícil, a tática da indústria é salgar o preço do componente ao ponto de se considerar sucumbir à compra de celular novo.



Ainda nos tempos da revolução digital, o mesmo acontece com os cartuchos de impressora à jato de tinta. Além de a indústria colocar um mecanismo que faz com que a impressora peça troca de cartucho à certa quantidade de cópias tiradas, mesmo não tendo sido gasto o potencial de tinta, ela coloca outro mecanismo que obriga a ser original o cartucho.

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